quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Tia Corina...e as cenouras!!

Algum tempo atrás - 13 anos para ser mais precisa - tive o prazer de morar 3 meses com uma tia querida chamada Corina. Pessoa muito alegre, ativa, brincalhona e, acima de tudo, muito cuidadosa com sua casa. No fim da minha adolescência, eu gostava muito era de dormir e de ajuda-la, porém sempre depois que ela já havia feito quase tudo.

Não entendia o motivo pelo qual ela tinha que limpar a casa todo dia, preparar a comida todo dia, perguntar como foi o dia dos outros membros da família...todo dia! Entre um descanso e outro eu tentava aliviar o peso de suas tarefas e me oferecia para fazer algo. O que sobrava para mim eram tarefas simples, nada muito penoso, a não ser pelas cenouras!
Tinha que ter cenouras no jantar???
Pobres cenouras, não faziam mal a ninguém, pelo contrário! Mas tinha que ser cenoura ralada? Não podia ser cozida em rodelas ou colocada dentro do feijão em pedaços??
Não, tinha que ser cenoura ralada. Mas não pára por aí.
Era necessário usar o ralador pequeno, que ralava mais fino, bem fininho, inclusive ralava o nosso dedo vez por outra.
- Mas tia, tem que ser nesse tão fininho? Por que não posso ralar no mais grosso??
- As crianças preferem assim. Respondia ela.
Simplesmente isso: "elas preferem assim".
Mas não eram elas que ralavam. O que importava se elas gostavam assim ou não?
Deveriam comer como viesse para a mesa! pensava eu, cá com meus botões!
Ainda bem que raramente tia Corina pedia para eu ralar as benditas cenouras, pois o sabor certamente não ficava o mesmo de quando era ela quem ralava, sem murmurar.
Anos (muitos anos) se passaram e hoje fui fazer salada de cenoura para o almoço.
Cozidas em rodelas? Pedaços no feijão??
Não! Raladas - e no ralo fino.
Por quê??
Porque fica bem mais gostoso e todos, inclusive eu, gostamos mais assim.
Desde que voltei da casa da tia Corina, nunca esqueci do cuidado que ela tinha em ralar as cenouras, com amor, para agradar os seus.
De qualquer jeito que ela fizesse, certamente iria servir de alimento e nutrição. Mas daquele jeitinho...hum....tinha um sabor extra, de capricho, de carinho.
Enquanto escrevo sinto uma leve dorzinha, no meu dedo. Junto com a cenoura foi um pedaço dele. Uma tampinha de nada da pele, mas como doeu. Na mesma hora lembrei-me da tia e não desisti, ralei até o final. No almoço...todos gostaram da saladinha caprichada!
Senti-me compensada!
É possível que tia Corina não rale mais as cenouras. Certamente permanece agradando os seus.
Cuidar da família é assim: às vezes tira um pedacinho de nós, exige um tempo a mais. Contudo, o resultado é muito bom.
A felicidade no lar é feita dessa forma, com pequenos gestos, dia após dia!
E, paulatinamente, a gente vai contruindo um ambiente seguro, forte e aconchegante, para o qual nossos queridos sentem prazer em voltar e sentem-se felizes por aqui estar.
Ralemos nossas cenouras, sejam elas o que forem...mas sem murmurar...rs!

2 comentários:

yone disse...

Olá Raquel amei o texto. É assim mesmo, fazendo com amor para agradar a cada um! É uma recompensa muito boa ver oprato limpinho e os elogios após saborear toda refeição feita com carinho.
Uma pena que vez ou outra, culpa da TPM, ou tantos afazeres nos leve a reclamar desse momento tão especial que é preparar os alimentos para nossa família!

Ruth Rodrigues disse...

Mana, amei o texto! Incrível como coisas ditas em nossa infância/adolescência podem mexer tanto conosco e nos ensinar tanto! Às vezes me pego "escutando" em algum momento a vó Berenice falando algo sobre comida, ou as tias sobre apagar a luz antes de sair do cômodo ou ainda nossos pais... é tão marcante não? Espero que possamos tb deixar boas marcas em nossas filhas... Amo vc!